quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Se tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me...
Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...


Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...


Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri


E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

1 comentário:

  1. Tortura

    Tirar dentro do peito a Emoção,
    A lúcida verdade, o Sentimento!
    -- E ser, depois de vir do coração,
    Um punhado de cinza esparso ao vento!...

    Sonhar um verso de alto pensamento,
    E puro como um ritmo de oração!
    -- E ser, depois de vir do coração,
    O pó, o nada, o sonho dum momento...

    São assim ocos, rudes, os meus versos:
    Rimas perdidas, vendavais dispersos,
    Com que eu iludo os outros, com que minto!

    Quem me dera encontrar o verso puro,
    O verso altivo e forte, estranho e duro,
    Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

    Florbela Espanca

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