VELHA FÁBULA EM BOSSA NOVA
Minuciosa formiga
não tem que se lhe diga:
leva a sua palhinha
asinha, asinha.
Assim devera eu ser
e não esta cigarra
que se põe a cantar
e me deita a perder.
Assim devera eu ser:
de patinhas no chão,
formiguinha ao trabalho
e ao tostão.
Assim devera eu ser
se não fora
não querer.
Alexandre O'neill
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Conclusão da estória:
Eros e Psique
"Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia."
Fernando Pessoa
"Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia."
Fernando Pessoa
Silêncio
O SILÊNCIO
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.
Eugénio de Andrade
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.
Eugénio de Andrade
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Livro do Desassossego
O Livro do Desassossego dasassossega-me. Talvez por me revelar intuições (ou certezas) que são minhas mas que nem sempre conheço. Disseram-me para o ler de uma ponta à outra, mas gosto de o abrir e ver o que me dedica, o que me responde. Desta vez foi isto:
316. "Um quietismo estético da vida, pelo qual consigamos que os insultos e as humilhações, que a vida e os viventes nos infligem, não cheguem a mais que uma periferia desprezível da sensibilidade, ao recinto externo da alma consciente.
Todos temos por onde ser desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer."
316. "Um quietismo estético da vida, pelo qual consigamos que os insultos e as humilhações, que a vida e os viventes nos infligem, não cheguem a mais que uma periferia desprezível da sensibilidade, ao recinto externo da alma consciente.
Todos temos por onde ser desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer."
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Este Inverno mata-me
Todos os anos tenho a mesma sensação; de que não vou conseguir sobreviver a tanto frio, chuva, céu nublado, dias cinzentos, peganhentos e arrastados... Cada vez é mais difícil suportar estes meses, agora com a angústia do estado de saude das crianças, que piora cada vez que aumenta o frio.
Hoje disseram-me que há pessoas alérgicas ao frio, e lá descobri mais uma patologia minha: sou alérgica ao frio. A falta de energia e de alegria, as mãos geladas, quase mortas, os lábios ressentidos e a pele ressequida, os ossos que me doem até à alma... são sintomas-testemunhas deste mal-estar que só o Sol, o Mar e o Vento quente podem afogar!
Hoje disseram-me que há pessoas alérgicas ao frio, e lá descobri mais uma patologia minha: sou alérgica ao frio. A falta de energia e de alegria, as mãos geladas, quase mortas, os lábios ressentidos e a pele ressequida, os ossos que me doem até à alma... são sintomas-testemunhas deste mal-estar que só o Sol, o Mar e o Vento quente podem afogar!
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
domingo, 3 de janeiro de 2010
"Traduzir-se" ou traduzir-me
Como sabem os amigos, é uma obsessão conhecer-me, analisar-me, explicar-me, compreender-me... que, como todas as obecessões, tem muitas vezes o efeito perverso de me fazer perder ainda mais no labirinto da consciência (ou da falta dela). Ainda assim, acho que tenho feito progressos, graças (ou não) à ajuda especializada.
Descobri este poema e este poeta, com Adriana Calcanhoto que também musicou o poema de Mário de Sá-Carneiro "O outro". O poeta é Ferreira Gullar e o poema chama-se
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Descobri este poema e este poeta, com Adriana Calcanhoto que também musicou o poema de Mário de Sá-Carneiro "O outro". O poeta é Ferreira Gullar e o poema chama-se
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
sábado, 2 de janeiro de 2010
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
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