domingo, 3 de janeiro de 2010

"Traduzir-se" ou traduzir-me

Como sabem os amigos, é uma obsessão conhecer-me, analisar-me, explicar-me, compreender-me... que, como todas as obecessões, tem muitas vezes o efeito perverso de me fazer perder ainda mais no labirinto da consciência (ou da falta dela). Ainda assim, acho que tenho feito progressos, graças (ou não) à ajuda especializada.

Descobri este poema e este poeta, com Adriana Calcanhoto que também musicou o poema de Mário de Sá-Carneiro "O outro". O poeta é Ferreira Gullar e o poema chama-se

TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

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